domingo, 20 de setembro de 2009

Despedidas I

Ella já preparava nosso almoço com competência quando chegamos à cozinha. Por alguns segundos, acabei contemplando embevecido sua habilidade no preparo da comida, antes que pudesse perceber nossa presença.


O almoço foi tranquilo. Embora a artista estivesse agitada com o retorno para casa, minha criadora estava quieta. O seu semblante refletia um pensamento distante, o qual gostaria de decifrar.


Eve fazia planos para voltar logo após o término das adaptações para o meu “visual humanizado”, como gostava de chamar minha nova caracterização. Todavia, minha atenção se voltava para a tentativa de desvendar o olhar fugidio de Ella. Até, finalmente notar, ali gravado, a saudade que já sentia da amiga.


Após apreciarmos a apetitosa paella de frutos do mar, fui lavar os pratos, enquanto a artista recolhia as sobras do almoço. Minha criadora ficou parada, em meio a cozinha, mantendo seu olhar fixo e ansioso em Eve.


Por fim a interpelou dizendo:

– Você bem podia ficar até amanhã de manhã. Tá com cara de que vai chover hoje, vou ficar preocupada se for agora. – Em sua entonação estava clara a desculpa inventada para prolongar a estada da amiga.


A sua resposta foi como de uma mãe educando sua filha:

– Ah, miga! Sabe que o tempo está perfeito e não vai mudar. Preciso ir hoje, se pretendo voltar para ficar uma semana e ajudar vocês com o visual novo do robozinho.


– Eu sei... Mas não custava tentar! Vou ficar com saudades... – Afirmou com ar de quem tentava se conformar.


A artista não perdeu tempo e comentou:

– Não sentiria minha falta se fosse comigo para a cidade!


Na mesma hora Ella desconversou e concluiu:

– Tá! A gente te avisa quando estiver tudo pronto. Acho que com a aplicação do Adam vai ser em menos de três semanas. – O seu prazo estava correto. Calculei que levaria por volta de quatorze dias, três horas, vinte e cinco minutos e doze segundos para completar o projeto. Entretanto, havia outras tarefas com as quais deveria ocupar-me, atrasando meu progresso em uma semana.


Eve pôs fim na conversa dizendo:

– Então devo correr! Amanhã tenho que resolver um monte de coisas com meu curador e a galeria de Londres onde está a exposição itinerante. Aliás, a maior parte deste acervo são os quadros de sua propriedade que nunca trouxe para cá. – Antes que minha criadora pudesse falar, completou – Eu sei, a maresia acabaria pondo fim neles. Vamos descer, preciso mesmo ir, não gosto de pilotar durante o crepúsculo.


Carreguei as malas da artista até o helicóptero e coloquei-as dentro da cabine. Apressei-me para as despedidas e fui surpreendido pelo seu gesto de carinho para comigo. Aproximou-se colocando a mão em meu ombro, ao lado, pude escutar a adorável risada da Ella aprovando o momento de ternura entre nós.


Ao dar-me um beijo no rosto, murmurou suavemente em meu ouvido:

– Cuida dela por mim! – Não precisava dizer-me isto, estaria sempre zelando por seu bem-estar.


Sem esperar resposta se virou para amiga. Gravado em minha memória estavam seu olhar decidido e sua última frase, dizia muito sobre o nosso breve convívio. A artista passou a depositar alguma confiança em mim e esta conquista me agradava muito.


As duas se entreolharam e o amor fluía de forma intensa entre elas. Estava claro o quanto era difícil se separarem. Ella gostaria de ter a amiga morando na Ilha e Eve de sua ida para o continente.


Durante o abraço, a artista declarou:

– Vou sentir sua falta. Entra mais no msn!


Em resposta recebeu:

– Eu também vou sentir e sabe que entro sempre. Mas você raramente está disponível à noite! – Esta última frase apesar de parecer uma queixa, tinha um tom de entendimento. Eve respondeu com um meio sorriso de desculpas, suas atividades sociais a impediam de estar online neste horário.


Entrou no helicóptero com facilidade, contudo demorou a acionar o motor, adiando a sua partida ao máximo. Acenou inúmeras vezes antes de levantar voo. Deu seu último adeus com a mão no peito e finalmente partiu.


Ficamos observando sua decolagem, como se não conseguíssemos acreditar em sua ida. Devo confessar, a artista não deixaria saudades apenas em Ella, também eu sentiria sua falta.


Sentamos de frente para o mar, determinados a ver nossa amiga sumir no horizonte, velando por seu retorno seguro.
No entanto, estava ainda mais apreensivo com meu próximo passo. Determinado a descobrir tudo sobre o seu passado com o Gilbert naquela mesma tarde, me preparava para lhe perguntar sobre o rapaz.


2 comentários:

  1. AHHHH! Achei q a Ella iria ficar com ciumes do beijinho da amiga no Adam, a primeira vista achei q a Eve ia dar um selinho no Adam, mas depois eu li hi hi hi!kk!


    ^^Clay1^^

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  2. Clay1
    Ella fica feliz em ver seus dois amigos se dando bem!
    Eve só deu um beijinho no rosto. Coisa de amigos. rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs
    Aliás, aqui nem é só de amigos, todo mundo se beija no rosto quando se apresenta!
    bjos mil, *.*

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