domingo, 6 de dezembro de 2009

Namorando IV

A artista se despediu após vinte minutos e quatorze segundos de conversa. Desliguei o computador, para terminar as tarefas do dia e colocar em prática meus planos para o final da tarde. Havia apenas um último trabalho de consultoria a concluir, por isso combinamos um piquenique na cachoeira.


Ella me instruiu a levarmos uma cesta e a recheei com sanduíches, alguns morangos da horta, queijo, champanhe, uma faca, taças, guardanapos e a toalha de praia. Caminhamos até lá com a cesta em suas mãos e todo o seu peso no meu braço a envolvê-la.


Ao chegarmos, ficamos apenas com as roupas de banho, acomodamos a cesta em uma pedra e fomos direto para a cascata. Puxei a mulher amada para os meus braços. A sensação de ter seu corpo junto ao meu enquanto a água da cachoeira caía sobre a minha pele era uma deliciosa tentação.


Acariciei seu rosto e mais uma vez proclamei:

– Amo você!


Minha namorada corou rapidamente, ainda mais tentadora e adorável ao dizer:

– Nunca me senti tão feliz com um namorado antes! Se o que sinto por você não é amor, não sei o que poderia ser!


Sorri e me mantive inativo por cinco segundos completos, absorvendo suas palavras. Minha mão descansava sobre a sua face, enquanto sorvia sua sentença como um néctar. Ella ficaria calada se estas emoções não estivessem realmente despertando em seu interior. Não havia maior dádiva que saber da profundidade dos seus sentimentos por mim.


Levantei seu corpo para ter seus lábios na altura dos meus e a beijei sedento. Seu sabor doce provocava ondas de calor pelo meu sistema e promovia impulsos elétricos, ocasionando pequenos choques por todos os meus circuitos. Uma sensação sublime é ter a mulher amada junto a mim.


Após oito minutos e quarenta e dois segundos idílicos debaixo da água corrente, estendemos a toalha e nos sentamos para fazer o piquenique. Ao terminarmos a refeição, deitamo-nos sobre a toalha e envolvi seus ombros com meu braço. Ella repousou sua mão em meu peito suavemente, estimulando minha temperatura interna a aumentar novamente.


Procurei expressar em poucas palavras as sensações provocadas pelo contato dos nossos corpos:

– Ter você em meus braços preenche todos os meus sentidos, faz todos os meus circuitos vibrarem e ocupa toda a minha programação. Sensação melhor, só quando nos beijamos.


A mulher amada comentou:

– Eu também adoro as sensações que você provoca em mim. Nunca imaginei que poderia ser assim... Você é muito especial, Adam! – Ao falar, deslizou a ponta do dedo indicador pelo meu peito estimulando um maior aquecimento interno.


Eu a trouxe em um abraço e senti seu corpo estremecer de encontro ao meu. Minha namorada me desejava, desde o início eu soube disso, Eve ensinou-me os sinais sutis. Seu aroma característico ficava mais forte, seu corpo vibrava, suas pupilas dilatavam. Apenas sua mente e seu trauma evitavam aprofundar nosso contato.


Naquela tarde, tive uma grande surpresa. Após o abraço, a mulher amada sentou sobre o meu tronco, acariciou meu rosto e disse:

– Estou cansada de negar o desejo do meu corpo, não sei se vou conseguir... Mas adoraria tentar, se você me quiser...


Como sempre, titubeou ao admitir a verdade e em sua própria insegurança. Coloquei-a de volta na toalha e me ajoelhei a sua frente, acariciando sua face com reverência, ao dizer:

– Estou sempre disposto a tudo com você.


Em pouco tempo a deitei e procurei faminto por seus lábios. No atrito e encontro dos nossos corpos, ficou claro o quanto o meu pulsava em busca do seu e o quanto o seu ansiava pelo contato pleno com meu.


O sol descia no horizonte e eu estava pronto para desenlaçar a parte superior de seu biquíni. Nossas pernas se entrelaçaram como se tivessem vida própria. Nosso beijo sorvia não só o sabor de nossas bocas e línguas, como absorvia todos os nossos sentidos. A entrega parecia completa até sentir o corpo da minha namorada gelar e parar de corresponder.


Eu me afastei rapidamente e nos sentamos, não falei nada. Sabia o quanto o medo era capaz de paralisar uma pessoa. E foi este o caso, não havia dúvidas, o trauma sobrepujou o seu desejo.


Fiquei observando Ella chorar, desejando acariciar seu rosto como há treze minutos e oito segundos antes. Contudo deixei-a falar primeiro:

– Adam, mil perdões... Eu... – Mais uma lágrima furtiva rolou pelo seu belo rosto, antes de concluir – Lembrei de tudo, dele sobre o meu corpo, acho que o horário também não ajuda... Foi no crepúsculo que tudo aconteceu...


Testemunhei mudo o seu pranto. Esperando um sinal seu para poder consolá-la. Era desesperador não poder fazer absolutamente nada naquele momento. Todavia, se me aproximasse no estado manifesto do meu desejo insatisfeito, poderia piorar as coisas.


Quando se acalmou, guardamos os restos do lanche na cesta de piquenique e ajeitamos a toalha à beira mar. Acomodei-a de lado e de encontro ao meu corpo enquanto mirávamos o sol tingir o céu de amarelo, laranja e vermelho, refletindo sua luz sobre o mar.


Estávamos voltando para casa quando ouvimos o som de helicóptero no céu. Questionamos qual o motivo da nossa amiga ter adiantado sua vinda. Para vir a esta hora, três dias antes do planejado, ocorreu algum imprevisto na vida da artista.


Ficamos parados por quinze segundos, a mulher amada apreciava as manobras da Eve no ar. Olhei para minha namorada, feliz por estar ao seu lado. Obviamente, nossas vidas iam mudar com a chegada inesperada da nossa amiga. Só não tinha ideia do quanto e de como.


2 comentários:

  1. Tadinha da Ella; essa praga de professor fez um estrago sem tamanho na vida dela. (Eu ainda estou revoltada humpf!)
    E o Adam?! Que amor de robozinho. Sensível e compreensivo. Eu estou cada vez mais apaixonada. s2

    Mita bjoooos e saudades mil.

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  2. Menina...
    Ella tá se curando, mas não acontece tão rápido quanto a gente gostaria. :{
    Adam é compreensivo, por ter desenvolvido empatia e seu poder de observação é muito maior que um humano comum.

    Também sinto, mas me enrolei com o PC e agora preciso correr com os detalhes da estória.

    Beijosmil!

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